Brasil – O cinema brasileiro ganha mais um marco histórico com “Ainda Estou Aqui”, longa dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello. O filme aborda a tragédia pessoal da família Paiva, cujas vidas foram despedaçadas após a prisão e assassinato de Rubens Paiva, deputado federal cassado pelo regime militar, em 1971.
Fernanda Torres dá vida a Eunice Paiva, a viúva que se tornou o pilar da família, criando sozinha cinco filhos enquanto buscava incessantemente justiça pelo marido. Eunice é retratada em duas fases, com Fernanda Montenegro assumindo o papel em sua maturidade, uma dobradinha que promete emocionar o público.
Selton Mello, por sua vez, interpreta Rubens Paiva, o político idealista que, apesar de não se envolver diretamente na luta armada, tornou-se vítima da brutal repressão do regime militar.
A dor de um Brasil silenciado
“Ainda Estou Aqui” não é apenas um drama familiar, mas também uma obra que ecoa a luta por memória, verdade e justiça no Brasil. A história de Rubens Paiva, desaparecido após ser preso por agentes do regime, é símbolo das milhares de vidas afetadas pela ditadura militar.
- Rubens Paiva foi preso em sua própria casa, numa ação que mais parecia um sequestro: sem mandado judicial, seis homens da Aeronáutica invadiram sua residência no Rio de Janeiro, armados com metralhadoras. Sua esposa, Eunice, e a filha de 15 anos, Eliana, também foram levadas, mas liberadas dias depois. Ele, no entanto, nunca voltou.
Relatórios e testemunhos indicam que Rubens foi torturado no DOI-Codi e morreu em decorrência dos ferimentos, mas a ditadura sustentou por décadas a versão fantasiosa de que ele teria sido sequestrado por militantes. Seu corpo nunca foi encontrado, e apenas em 2014 o coronel reformado Raimundo Ronaldo Campos admitiu ter participado da montagem dessa farsa.
Walter Salles e o desafio de contar uma história real
Reconhecido por obras como Central do Brasil e Diários de Motocicleta, Walter Salles enfrentou um desafio monumental ao dirigir “Ainda Estou Aqui”: equilibrar a sensibilidade do drama familiar com a responsabilidade de retratar um período sombrio da história nacional.
“Eu não queria apenas contar uma história de dor, mas mostrar a força de uma mulher que se tornou símbolo de resiliência e coragem. Eunice Paiva representa muitas outras que lutaram para reconstruir suas vidas em meio ao terror”, explicou o diretor em entrevistas.
Quem foi Rubens Paiva?
Rubens Beyrodt Paiva nasceu em Santos, em 1929, e formou-se em engenharia civil. Engajado desde jovem no movimento estudantil, foi eleito deputado federal pelo PTB em 1962. Durante seu mandato, destacou-se por denunciar o financiamento de campanhas anticomunistas pelo IPES-IBAD, o que atraiu a ira dos militares.
Após o golpe de 1964, teve seu mandato cassado pelo Ato Institucional nº 1. Mesmo exilado por um breve período, voltou ao Brasil e retomou sua vida como engenheiro e jornalista. Sua prisão e morte ocorreram sob o pretexto de que teria ligações com Carlos Lamarca, líder da luta armada, mas investigações posteriores desmentiram tal ligação.
Por que assistir?
“Ainda Estou Aqui” é mais do que um filme: é um convite à reflexão sobre as cicatrizes deixadas pela ditadura e o impacto das violações de direitos humanos. Com atuações brilhantes e uma direção cuidadosa, o longa promete tocar o coração de todos que acreditam na importância de preservar a memória histórica.
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