O regulamento do Campeonato Brasileiro diz que, em caso de empate no número de pontos conquistados, a posição na tabela de classificação deve ser definida, pela ordem, pelo maior número de vitórias, pelo melhor saldo de gols, pelo maior número de gols pró, pelo confronto direto, pelo menor número de cartões vermelhos recebidos, pelo menor número de cartões amarelos recebidos e por sorteio. Em outros campeonatos pelo mundo, o saldo de gols ou o confronto direto aparecem como principais critérios, mudando a ordem.
O assunto foi tema de debate no programa No Mundo da Bola do último domingo (7), na TV Brasil, e dividiu as opiniões. Seis jornalistas estrangeiros participaram e, como se fossem duplas, votaram no confronto direto (o inglês Tim Vickery e o francês Eric Frosio), no saldo de gols (o chileno Patricio de la Barra e o uruguaio Martin Gomez de Freitas) e no número de vitórias (a catalã Paula Muriel e a japonesa Kiyomi Nakamura). Um forte sinal de que não há um consenso sobre qual seria a melhor escolha.
Você pode até achar exagerada a posição da CBF de colocar tantos critérios para definir uma posição na tabela, mas em 2005, na nona rodada do Brasileirão, São Paulo e Fluminense estavam empatados em quase todos os números, e o Tricolor paulista só ficou na frente do carioca porque havia recebido menos cartões vermelhos até aquele momento. Isso foi no meio do campeonato, mas já pensaram se decidisse um título?
O trauma deve ser grande, e recentemente tivemos essa situação, aqui mesmo no Brasil, na definição do título da Série B. O América-MG era o campeão até os 50 minutos do segundo tempo da partida entre Chapecoense e Confiança, mas o time catarinense marcou mais um gol e ficou com o troféu. E o critério usado para definir a competição foi o saldo de gols, pois até então os mineiros estavam levando o título no maior número de gols marcados, valendo-se, no caso, do terceiro critério de desempate.
Na história das principais ligas europeias há registros de desempates de várias formas, na definição de um título nacional. Em Portugal, o Porto foi campeão da temporada 1958/1959 no saldo de gols, superando o Benfica. Na França, o Stade de Reims venceu em 1961/1962 por ter sofrido menos gols que o Racing Club de Paris. Na Inglaterra, em 1988/1989, o Arsenal marcou mais gols que o Liverpool e ficou com o título. Há outros, mas aqui estão três resultados distintos na definição de um campeonato.
Os argumentos para definir o melhor critério são bons e ruins. De verdade. O maior número de vitórias mostra quem mais venceu, é óbvio, mas também indica quem mais perdeu. Na 34ª rodada do Brasileirão, por exemplo, Sport e Fortaleza somam 38 pontos, mas o time pernambucano está à frente porque venceu 11 vezes. Mas o Rubro-Negro perdeu 18, enquanto o Tricolor cearense perdeu 14. Quem teve melhor desempenho?
Quando falamos de gols marcados, ou saldo de gols, usamos critérios técnicos, que indicam quem mais buscou a vitória. Mas, por outro lado, sempre poderá haver a suspeição de um resultado “diferente”. Quem não lembra da Copa de 78, Argentina 6, Peru 0 (resultado que eliminou o Brasil da competição e classificou os argentinos para a grande decisão)?
E quanto ao confronto direto? Os dois jogos entre os empatados nos pontos podem, também, ter terminado empatados. Além disso, restringir todo um campeonato a apenas dois jogos não me parece muito justo. Seria como transformar a disputa de pontos corridos num mata-mata.
Juntando tudo isso, deixo minha opinião: eu prefiro o número de vitórias. Mas, e você?
* Sergio du Bocage é apresentador do programa No Mundo da Bola, da TV Brasil.
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