MUNDO – Novembro não carrega uma data comemorativa muito grande fora dos Estados Unidos, que aproveita o Dia de Ação de Graças. No Brasil, esse período de 55 dias entre o Halloween e o Natal deixa um vácuo que foi muito bem aproveitado pelo filme de terror Terrifier 3, que traz o palhaço assassino Art vestido de Papai Noel. Lançado no dia 31 de outubro, o filme arrecadou mais de US$ 61 milhões em bilheteira global, ultrapassando mais de 30 vezes o seu orçamento.
O sucesso de Terrifier 3 se insere em um fenômeno crescente dentro do gênero de terror: a figura do palhaço assassino. Desde os primeiros filmes do gênero, palhaços têm sido uma escolha popular para vilões devido à sua capacidade de combinar elementos de diversão e desconforto. O fato de serem frequentemente associados à infância e ao riso cria um contraste perturbador quando essa imagem é subvertida para algo sinistro e ameaçador.
Outras produções que exploraram essa fórmula com sucesso incluem o clássico It – A Coisa (1990 e 2017), onde Pennywise, uma entidade cósmica, se alimenta do medo das crianças. A figura de Pennywise, interpretado por Tim Curry e Bill Skarsgård, ressurge como uma manifestação das maiores vulnerabilidades da infância. A presença do palhaço no terror não é acidental; ele reúne os opostos: um personagem que deveria causar alegria, mas que, ao contrário, provoca pavor.
Por que toda essa fascinação?
A atração por palhaços assassinos está profundamente enraizada em nosso medo coletivo do inconsciente. O contraste entre a figura do palhaço, que deve representar alegria, e a violência brutal que ele pode representar, ativa uma resposta primitiva de medo, criando uma sensação de insegurança que ressoa com os medos mais profundos do espectador.
Para piorar, ainda que versões fictícias de palhaços assassinos sejam assustadoras, o conceito foi tragicamente inspirado em casos reais, e um deles se tornou um dos maiores horrores da história dos Estados Unidos. John Wayne Gacy, um dos serial killers mais notórios, que se vestia de “Pogo, o Palhaço”, usava sua imagem bufônica para enganar crianças e adultos em festas, enquanto secretamente sequestrava, torturava e assassinava suas vítimas. Entre 1972 e 1978, Gacy matou 33 jovens, enterrando muitos de seus corpos em sua própria casa.
Gacy atraía suas vítimas, geralmente adolescentes e jovens, oferecendo empregos em sua empresa ou usando outros pretextos para convencê-los a visitar sua casa. Depois de cometer os assassinatos, Gacy escondia os corpos no porão de sua casa. No total, 29 vítimas foram enterradas em sua propriedade, enquanto outras quatro foram jogadas em um rio próximo.
Seu alter ego, Pogo, era parte de sua estratégia para desviar suspeitas e reforçar sua aparência de “homem comum”, com uma imagem pública era cuidadosamente construída: empresário, membro ativo da comunidade e frequentador de eventos locais. A complacência inicial das autoridades em conectar os desaparecimentos de jovens, muitos deles marginalizados ou de famílias menos favorecidas, evidenciou lacunas na investigação de casos envolvendo vítimas vistas como “vulneráveis” ou “menos prioritárias”.
Descoberta de Pogo como Palhaço Assassino
A queda de Gacy começou com o desaparecimento de Robert Piest, um adolescente de 15 anos que foi visto pela última vez indo para uma entrevista de emprego com ele. A denúncia da mãe de Robert levou a polícia até Gacy. Durante as investigações, uma busca em sua casa revelou um cenário aterrorizante: restos mortais de várias vítimas estavam enterrados sob o piso do porão.
Em 1980, John Wayne Gacy foi julgado e condenado por 33 assassinatos, o maior número de vítimas atribuído a um único assassino na história dos EUA até então. Ele foi sentenciado à morte por injeção letal. Durante o julgamento, Gacy tentou alegar insanidade mental, mas os jurados não aceitaram essa defesa. Ele permaneceu no corredor da morte por 14 anos até sua execução em 10 de maio de 1994.
A figura de John Wayne Gacy como “Pogo, o Palhaço Assassino”, permanece como um dos casos mais perturbadores e trágicos da história criminal dos Estados Unidos, o terror gerado por sua figura de palhaço e pela sua brutalidade ressoa até hoje, alimentando a ideia de que os maiores monstros podem esconder-se sob as máscaras mais inofensivas.
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