Explicar futebol com a frieza dos números não é o mais correto, mas eles nos ajudam a projetar o andamento de um campeonato e, por que não, prever como será o término dele. Por exemplo: desde 2006, quando o Brasileirão começou a ser disputado por 20 equipes, em apenas quatro edições o campeão do primeiro turno não ficou com o título no fim: em 2008, o Grêmio acabou superado pelo São Paulo; em 2009, o Internacional perdeu o título para o Flamengo; em 2012 foi a vez de o Fluminense superar o Atlético-MG; e em 2018, o Palmeiras levou o título e o São Paulo, campeão do turno, foi o primeiro a não ficar sequer no G4, terminando em quinto lugar. Então, a chance de o campeão do turno ser o campeão brasileiro é superior a 70%. Ao menos para a matemática.
Isso quer dizer que o São Paulo, campeão do turno de 2020, tem boas chances de ganhar o Brasileirão. Mas a favor dele há uma outra estatística – desde 2011, ou seja, no início da década de 20, o líder da 30ª rodada se sagrou campeão. Em 100% das edições. Ou seja, caso tenhamos outro time chegando na frente, na 38ª rodada, será algo inédito nos últimos dez anos.
É interessante observar, ainda, que nesses nove anos, em cinco uma das equipes do G4 da rodada 30 perdeu seu lugar no final – nas outras o G4 se manteve. Isso mostra que há uma chance de 86% de o time que está no G4 agora garantir vaga direto na Copa Libertadores do ano que vem. A título de curiosidade, os cinco que perderam a vaga foram Botafogo (em 2011 para o Fluminense), Atlético-MG (em 2014 para o Internacional), Santos (em 2015 para o São Paulo), e São Paulo, duas vezes (em 2018 e 2019 para o Grêmio).
E na parte de baixo? A história muda muito pouco também. Mas em sete edições houve uma mudança no Z4, não mais do que isso. Em outras duas, ninguém escapou da queda – risco de queda, então, é de 80%. E fugir da Série B não foi tarefa fácil. Em 2011, por exemplo, o Atlético-MG precisou de um desempenho de 62% nas últimas rodadas, similar ao do Internacional, atual segundo colocado na tabela, para escapar. O mesmo fez o Fluminense em 2019. Já o Sport, em 2012, chegou a 58% dos pontos, mas mesmo assim caiu. Se olharmos para o atual Z4, em que o Bahia, 17º colocado, não chega a 34% dos pontos disputados, vemos que a situação é bem difícil para essas equipes.
A cada ano observado, a situação na 30ª rodada se mostrou bem diferente. A diferença de pontos entre o primeiro e o quarto colocados, por exemplo, variou bastante. Em 2019 ela era de 19 pontos; 18, em 2015; 16, em 2012; e 12, em 2013. Em 2014, 2017 e 2018, 9 pontos separavam o líder do quarto colocado. Em 2016, eram 7. Mas em 2011, a distância do líder Corinthians para o Flamengo era de apenas 3 pontos, algo bem semelhante ao que vemos na atual edição, em que Atlético-MG e Flamengo têm um jogo a menos que o São Paulo. Aliás, no Z4, a pontuação também é muito parecida, pois o Atlético-MG abria a zona do rebaixamento com 30 pontos (o Bahia tem 29 em 29 jogos) e o lanterna era o América-MG, com 24 (o Botafogo tem 23).
Então, se a matemática (e a estatística) resolver mostrar sua força, o São Paulo será o campeão de 2020 e entre Internacional, Atlético-MG e Flamengo, um deles sairá do G4. Na parte de baixo, o corte, em 2011, ficou em 42 pontos, ou 36,8% de aproveitamento. E um também escapou, o que significa que um outro ficou pelo caminho. É esperar pra ver.
Sergio du Bocage é apresentador do programa No Mundo da Bola, da TV Brasil
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