Após ser acusado injustamente de ter roubado um sapato na loja Studio Z, o servidor federal Paulo Henrique Arifa, 38 anos, convive com as sequelas do racismo que sofreu – fora o pé que foi machucado, quando pisou em falso durante a abordagem de seguranças do Pantanal Shopping.
Não se trata de um “episódio” de racismo, já que desde que “Brasil é Brasil”, o racismo é institucionalizado e estrutural, e pessoas negras sofrem com retaliações e julgamentos todos os dias.
Não por menos, na mesma semana, o instrutor de surfe Matheus Ribeiro foi acusado de roubar uma bicicleta elétrica de um casal branco, no Rio de Janeiro. Quem roubou a bicicleta, inclusive, era um homem branco, com diversas passagens pela polícia.
De acordo com a advogada do servidor, Suleyme Santos, Paulo é uma pessoa reservada, que não tem redes sociais e ficou extremamente abalado com o que sofreu. “Ele está com a saúde abalada de uma forma que a gente jamais imaginou. Ele não consegue dormir, acorda com pesadelos”, detalha.
Na última quarta-feira (10), Paulo estava trabalhando de casa, com seus filhos de três e cinco anos. No entanto, ele foi informado que deveria participar de uma importante reunião, que era presencial. O anúncio ocorreu quase em cima da hora marcada.
O servidor então deixou os filhos na casa da babá por volta de 13h, e foi correndo para o Pantanal Shopping, para comprar roupas e sapatos para participar do encontro extraordinário.
No estabelecimento, ele foi até uma loja da Studio Z, onde comprou um sapato no valor de R$ 79,99. Ele fez o pagamento com dinheiro e ainda recebeu R$ 20 de troco. Com pressa, ele calçou os sapatos e saiu da loja.
No entanto, ao entrar no provador da loja Pollo, foi abordado por 5 seguranças, pois uma funcionária da Studio Z o acusou de ter roubado o par.
Segundo Suleyme, o racismo foi tão explícito, que a funcionária da loja chegou a dizer “foi ele, esse negão careca”.
“O fato se deu pela cor da pele dele, isso é inegável”, pontua. “E ele estava tão atordoado com a reunião, que era de absoluta importância, ele foi lesionado pra lá”, conta a advogada.
Nervoso, ele não conseguia encontrar a nota fiscal do produto. Logo, os homens queriam levá-lo para a sala de segurança. Foi nesse momento que Paulo decidiu filmar a ação e se recusar a ir sozinho para o local, pois não saberia o que podia acontecer com ele. Resistindo, ele pisou em falso e torceu o tornozelo.
A preocupação de Paulo é plausível, já que em 2009, o vendedor ambulante Reginaldo Donnan foi morto por seguranças do Shopping Goiabeiras e jogado em um contêiner de lixo.
“Isso fere a honra de uma pessoa. Ele é pai, tem dois filhos e você logo pensa que isso pode acontecer com seus filhos. Ainda mais em uma cidade em que um vendedor entrou no Shopping Goiabeiras e foi morto lá. Ele só pensou nesse medo, porque a todo custo queriam leva-lo para a sala de segurança”, revela Suleyme.
Após as imagens terem repercussão nacional, o Pantanal Shopping e Studio Z fizeram uma nota de esclarecimento, dizendo ainda que não compactuam com preconceito e os seguranças foram afastados.
No entanto, a defesa de Paulo informa que não foi procurada em nenhum momento pelos estabelecimentos. “A única informação que a gente tem é o que foi veiculado, nós não temos nenhuma nota, não fomos procurados pelo shopping”, disse.
Agora, eles irão entrar com ação, que já foi encaminhado ao delegado Flávio Stringueta. As imagens do circuito interno de segurança do shopping também foi solicitadas, para abrir o caso, apurado pelas autoridades policiais.
Fonte: Gazeta digita
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