Viola Fletcher, ou “Mother Fletcher”, como é chamada pela família e pelos amigos, tem uma missão. Aos 109 anos, acabou de lançar “Don´t let them bury my story” (“Não deixem que eles enterrem minha história”), escrito com a ajuda do neto, Ike Howard. A obra a transformou na mulher mais velha a lançar um livro de memórias, mas seu principal objetivo é fazer com que as pessoas não esqueçam o que aconteceu.
Entre 31 de maio e 1º. de junho de 1921, uma multidão de brancos enfurecidos, entre os quais havia membros da polícia e lideranças locais, assassinaram centenas de negros e puseram fogo em milhares de casas e lojas – se apossando do que viram pela frente – numa próspera comunidade afrodescendente chamada Greenwood, na cidade de Tulsa, no estado norte-americano de Oklahoma. Os sobreviventes perderam suas casas e boa parte simplesmente preferiu ir embora deixando tudo para trás.
A concentração de médicos, advogados, comerciantes e professores era tão grande em Greenwood que a região era chamada de Black Wall Street. A família de Viola, na época uma garotinha de 7 anos, foi uma das decidiram abandonar tudo o que haviam construído. Dali em diante, a pobreza foi uma constante na trajetória da menina. Durante a II Guerra Mundial, ela foi soldadora em navios, mas depois voltou para Tulsa, onde trabalhou como empregada doméstica.
Foto histórica do Massacre de Tulsa — Foto: Reprodução
Em 2021, alguns dias antes do centenário do Massacre de Tulsa, como o ato de barbárie ficou conhecido, os últimos três sobreviventes – Viola, seu irmão Hughes Van Ellis e Lessie Randle – testemunharam diante do Congresso. Na ocasião, contou que a visão de pessoas assassinadas nas ruas e da vizinhança em chamas foi um trauma que a acompanhou ao longo da vida. O atentado foi motivado por uma acusação falsa: a de que um jovem negro de 19 anos havia tentado estuprar uma adolescente branca num elevador.
Logo após o massacre, todas as tentativas dos moradores de receber algum tipo de indenização ou seguro foram rechaçadas. Com o apoio da organização Justice for Greenwood, os sobreviventes do massacre entraram com um processo contra a cidade de Tulsa e o departamento militar de Oklahoma, mas a ação também foi descartada. Agora está em curso uma (longa) negociação para que a reparação parta do governo municipal. “Nossa dor e demanda por justiça não podem ser ignoradas ou apagadas”, diz Viola.
Fonte: g1
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