Dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, fala sobre o legado de Francisco após a morte do Papa

Dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, fala sobre o legado de Francisco após a morte do Papa

Manaus – A morte do papa Francisco, na madrugada de 21 de abril de 2025, deixou a Igreja Católica em luto e marcou o início de um período de reflexão e oração. Em Manaus, o cardeal Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo metropolitano da cidade, divulgou uma mensagem emocionada, celebrando o legado do pontífice argentino e convocando as comunidades locais a se unirem em prece pela transição da Igreja. Como um dos cardeais brasileiros com direito a voto no próximo conclave, Dom Leonardo também reforça a relevância do legado de Francisco sobre a Amazônia no cenário católico global.

Em nota oficial, Dom Leonardo Steiner destacou a “bondade” e o “pontificado extraordinário” de Francisco, cuja liderança foi marcada pela proximidade com os mais pobres e pela defesa da justiça social. “O pastor com cheiro das ovelhas, que peregrinou nas periferias do mundo, nos precede agora como o grande peregrino da esperança”, escreveu o cardeal, ecoando o lema pastoral de Francisco, Miserando atque eligendo (“Com misericórdia o elegeu”). Ele lembrou gestos como o Ano Santo da Misericórdia (2015-2016) e a espiritualidade de cuidado com a “casa comum”, expressa na encíclica Laudato Si’.

A mensagem, assinada também pelos bispos auxiliares de Manaus — Dom Zenildo Lima, Dom Joaquim Hudson Ribeiro, Dom Samuel Ferreira Lima, Dom Luiz Soares e Dom Mário Pasqualotto —, ressalta a gratidão da Arquidiocese pelo carinho de Francisco com a Amazônia. O papa convocou o Sínodo para a Amazônia em 2019 e publicou a exortação Querida Amazônia, na qual chamou a região de “terra querida” e amplificou o grito de seus povos indígenas e ribeirinhos. “Nossa Igreja, com suas populações e bioma, é imensamente grata por sua predileção”, afirmou Dom Leonardo.

 

O Conclave

A morte do papa Francisco, na madrugada desta segunda-feira (21/4), abriu um período de luto e especulação no Vaticano sobre quem será o próximo líder da Igreja Católica. Entre os nomes cotados para o papado, o Brasil desponta com representantes de peso, incluindo Dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, que aparece ao lado de outros cardeais brasileiros como um possível sucessor. Com a América Latina consolidada como um polo influente na Igreja, a escolha do novo papa pode trazer surpresas.

Com a partida de Francisco, a Igreja tem entre 15 e 20 dias para organizar o conclave, um evento secreto no qual cardeais com menos de 80 anos se reúnem para eleger o novo pontífice. O termo “conclave”, do latim cum clavis (“com chave”), reflete o isolamento dos eleitores na Capela Sistina, onde a votação ocorre até que um candidato alcance dois terços dos votos. Em 2013, Francisco, então cardeal Jorge Mario Bergoglio, foi escolhido por 116 dos 120 cardeais após a renúncia de Bento XVI.

Atualmente, cerca de 120 cardeais são elegíveis para votar, e aproximadamente 80% deles foram nomeados por Francisco, o que pode favorecer candidatos alinhados às suas reformas progressistas, como a ênfase na justiça social, na inclusão e no diálogo inter-religioso.

Brasileiros no radar

A eleição de Francisco, o primeiro papa latino-americano, colocou a região no centro das atenções da Igreja. Embora as chances de um papa brasileiro sejam consideradas menores em comparação com 2013, o Brasil conta com sete cardeais eleitores no conclave, um número expressivo. Entre eles, destacam-se:

Dom Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, conhecido por sua defesa dos povos indígenas e da Amazônia. Cardeal desde 2022, Steiner tem um perfil pastoral alinhado às prioridades de Francisco, como a proteção ambiental e o cuidado com os marginalizados. Sua atuação na Amazônia, um tema caro ao pontificado de Francisco, o coloca como uma figura relevante.

Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre, também nomeado cardeal por Francisco. Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Spengler é respeitado por sua liderança e moderação.

Dom Paulo Cezar Costa, arcebispo de Brasília, outro nome com potencial, embora menos mencionado nas apostas internacionais.

A influência desses cardeais brasileiros no conclave pode ser decisiva, seja como eleitores ou, em menor probabilidade, como candidatos. “Francisco transformou o Colégio de Cardeais, dando voz a regiões periféricas. Isso abre espaço para nomes inesperados, inclusive do Brasil”, avalia o teólogo João Carlos Almeida, professor da PUC-Rio.

Concorrentes internacionais

Apesar da presença brasileira, os favoritos ao papado vêm de diferentes continentes. O italiano Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha, é um dos mais cotados. Próximo a Francisco, ele ganhou destaque como enviado papal em negociações de paz, como na Ucrânia. O filipino Luis Antonio Tagle, arcebispo de Manila, é outro nome forte, representando a crescente influência da Ásia na Igreja. Carismático e reformista, Tagle é visto como um continuador do legado de Francisco.

O cardeal ganês Peter Turkson, defensor da justiça social, poderia fazer história como o primeiro papa negro, enquanto o húngaro Péter Erdő, do Conselho para a Economia da Santa Sé, é uma opção mais conservadora. A diversidade de perfis reflete a complexidade do conclave, onde fatores como idade, saúde e alinhamento ideológico pesam na escolha.

Francisco, que faleceu aos 88 anos após complicações de uma pneumonia bilateral, deixou um legado de abertura e proximidade com os mais pobres. Suas nomeações no Colégio de Cardeais ampliaram a representatividade de regiões como a América Latina, África e Ásia, o que pode moldar a eleição de seu sucessor. Para Dom Leonardo Steiner, a possível escolha de um papa com raízes amazônicas seria “um sinal de que a Igreja continua a ouvir os clamores dos povos mais vulneráveis”, conforme declarou em um evento da CNBB em 2023.

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