Foto: Marcela Estrella
O município de Itacoatiara está celebrando seu 150º aniversário esta semana. Para comemorar em grande estilo, o prefeito Mário Abrahim organizou um fim de semana repleto de shows de artistas de renome nacional, apesar das denúncias de falta de infraestrutura, saneamento básico, falta de transparência e contratos com preços inflacionados enfrentadas pela atual administração.
Com apresentações de Anderson Freire, Zé Felipe, Mari Fernandes e Belo, a celebração do aniversário da cidade chamou a atenção da população, pois a prefeitura não divulgou o valor dos cachês dos artistas, exceto o de Freire, que custará R$ 180 mil aos cofres públicos.
Esta não é a primeira vez que o prefeito traz grandes atrações para eventos públicos, ignorando os problemas enfrentados pela população. Em 2023, enquanto o Amazonas sofria com uma seca severa, Mário Abrahim contratou shows dos artistas João Gomes, Xand Avião e Pablo do Arrocha pelo valor de R$ 1,25 milhão, para se apresentarem na 2ª Edição do Expofest.
Naquela ocasião, o Tribunal de Contas do Estado do Amazonas (TCE-AM) deu um prazo de 24 horas para o prefeito de Itacoatiara explicar os gastos públicos com festividades durante o período de seca.
Vale ressaltar que o Expofest é um evento criado durante a administração do atual prefeito, que promove diretamente o nome e a imagem de Abrahim. Segundo o cientista político Carlos Santiago, essa estratégia busca manter a presença do prefeito na história do município e fortalecer sua candidatura em futuras eleições.
“Em alguns casos, essas festas são usadas para autopromoção do gestor público e para fortalecer seu nome no processo eleitoral, especialmente em cidades onde há falta de médicos, infraestrutura adequada, boas escolas, água potável e saneamento básico”, enfatizou o cientista político.
Falta de infraestrutura e saneamento básico
Quem não tem motivos para comemorar são os moradores do bairro Piçarreiras, que sofrem com a falta de pavimentação asfáltica e saneamento básico na região. Os residentes da Rua 7 de setembro, localizada na divisa entre os bairros Prainha e Piçarreiras, por exemplo, denunciaram ao Em Tempo que acidentes se tornaram frequentes devido à falta de asfalto na via pública.
“O ônibus que costumava passar aqui não passa mais. Ele caiu ali, a roda dele derrubou o barranco ali. Uma mulher caiu de moto ali. Disseram que iriam arrumar aqui no mês seguinte, mas até agora nada. Já faz uns 5 ou 6 anos, mais ou menos. E quando chove, isso aqui vira um lamaçal. É impossível”, destacou a moradora Ingrid Nascimento.
Além disso, a situação se agrava devido à falta de saneamento básico. Com o aumento do volume das chuvas, a água não tem para onde escoar, causando alagamentos que também se misturam com água contaminada por esgoto.
“Quando chove, alaga e a água suja com fezes das pessoas. As crianças da escola aqui perto têm que passar por cima dessa água imunda. As fezes entopem tudo e o mau cheiro é insuportável”, ressaltou Nascimento.
Outra moradora da área, Maria do Desterro, mencionou que no mapa do município, a Rua 7 de setembro é indicada como recentemente asfaltada, o que não condiz com a realidade.
“No mapa, eles dizem que a rua está asfaltada, mas eu não vejo isso. Está assim, e qualquer chuvinha nossa casa alaga, e não tem ninguém para nos ajudar”, contou Desterro.
relatou o morador.
destacou.
Superfaturamento e falta de transparência
Enquanto a população clama por melhorias, o prefeito Mário Abrahim enfrenta acusações de assinar contratos com valores acima do mercado. Durante sua gestão, foram formalizados dois contratos com altos custos, um para a compra de cestas básicas e outro para a aquisição de madeira. Em março, o vereador Arnoud Lucas (PV) denunciou nas redes sociais que a autoridade municipal adquiriu 10 mil cestas básicas no valor de R$ 900 mil.
Segundo Arnoud, cada cesta básica comprada pela prefeitura custou R$ 288,05 aos cofres públicos. No entanto, ao realizar sua própria pesquisa de preços, o vereador montou uma cesta básica no varejo pelo valor de R$ 197,55, resultando em uma diferença de mais de R$ 900 mil para as 10 mil sacolas de alimentos.
O superfaturamento das cestas básicas não é a única acusação enfrentada por Mário Abrahim. Em março, o Tribunal de Contas do Amazonas (TCE-AM) multou o prefeito de Itacoatiara em R$ 13.654,39 devido à falta de transparência no empréstimo de R$ 30 milhões obtido junto ao Banco do Brasil em 10 de outubro de 2022.
O TCE também está investigando Abrahim após uma denúncia acusá-lo de superfaturar a compra de madeira em 2022. A denúncia nº 10205/2022, disponível no TCE-AM, alega que Mário Abrahim utilizou seu cargo de prefeito para cometer irregularidades, incluindo a compra e transporte supostamente superfaturados de madeira.
“Essa conduta, à primeira vista, nos leva a crer que se trata de uma medida que beneficiaria a população de Itacoatiara durante um período de grande inundação. No entanto, na realidade, o que podemos observar é algo extremamente suspeito em relação à transparência do serviço prestado”, afirma o denunciante.
Nos últimos dias, Mário Abrahim foi multado pelo TCE-AM em R$ 13,6 mil devido à falta de transparência no uso de dinheiro público em contratos para a “Expofest”, realizada em outubro de 2023.
De acordo com a decisão, a representação com pedido de medida cautelar apresentada pelo Ministério Público de Contas (MPCAM) é decorrente de uma notícia de fato com pedido de providência feito por David Andrade Moreira contra Mário Abrahim, devido à ilegitimidade dos gastos públicos em decorrência das situações existentes no município de Itacoatiara/AM, bem como pela falta de divulgação das informações relacionadas aos contratos no domínio público de transparência do município.
O processo nº 15548/2023 estabeleceu um prazo de 30 dias para que o prefeito de Itacoatiara pague a multa. O TCE-AM também determinou que Mário Abrahim adote as medidas necessárias para atualizar a transparência pública.
Apesar das denúncias acumuladas, a atual administração de Itacoatiara comemora o aniversário da cidade. Em seus 150 anos de história, os moradores do município continuam reivindicando seus direitos, mesmo que o líder do município não escute as demandas daqueles que o elegeram.